É
muito comum falar-se em Amor à Primeira Vista. Isto é, quando os olhares
cruzam, a espinha esfria e as borboletas cantam no estômago. Ela diz que encontrou
o príncipe. Ele diz que está ao lado de uma princesa.
Os anos, porém, passam e
ele depara-se com a gata borralheira. Ela, por sua vez, tira os óculos da
ilusão e enxerga no antigo príncipe um sapo, não raro portador de uma saliente
barriga de chope.
E quando voltam o olhar ao passado pensam: meu Deus, como fui
achar que isso era amor?
Eis a verdade batendo na porta.
Realmente não era amor, apenas paixão. A paixão tem um objetivo
dos mais nobres: aproximar as pessoas. Cria uma espécie de miopia que faz maximizar
os pontos fortes e minimizar os pontos fracos.
A paixão é obra do presente. É encontro, momento, instante. A
paixão é avassaladora, ela não raciocina, não reflete. A diferença do amor é
que este é oposto da paixão, pois contempla o passado e faz com que, em muitas
ocasiões, o sapo que hoje ostenta uma barriga de chope seja considerado um
príncipe, claro que não de conto de fadas, mas da vida real. E este príncipe é
aquele que esteve ao nosso lado quando precisamos, não nos abandonou na morte
do pai, ficou conosco na dificuldade financeira, educou as crianças, discutiu,
discordou, e, como mostra uma famosa imagem, mesmo contrariado colocou sobre
nossa cabeça o próprio guarda-chuvas enquanto a tempestade desabava.
O amor é quando ele olha para o passado e vê quantas vezes a
“gata borralheira” fez-se presente em sua vida, mesmo a reclamar pelos cantos
da casa ou vitimada por bombas hormonais, esteve firme ao seu lado e, com
frequência, a sua frente. O passado, quando visitado com os olhos do amor, faz com
que a “gata borralheira” seja a grande princesa de nossa vida.
E já não há mais borboletas cantando no estômago, tampouco frio
na espinha, contudo, há cumplicidade, vontade de estar perto, desejo de
continuar partilhando bons e maus momentos, tão naturais na efêmera existência
humana.
Paixão e amor… Amor e paixão… são tão diferentes, porém, quase
inseparáveis.
Seria o amor a paixão sofisticada?
Quem sabe…
O que sei é que a paixão admira o presente.
Já o amor… Ah, o amor admira o presente, não esquece do passado
e planeja o futuro.
Diz
Kardec: “a
Natureza deu ao homem a necessidade de amar e ser amado”.
Amar vem primeiro, ser amado depois.
Certa vez uma moça chegou até Divaldo Franco e desabafou:
–
Não encontro o homem ideal, namorei várias pessoas, mas nenhuma ideal.
E Divaldo, sábio, convidou-a a reflexão:
–
Você já buscou ser a mulher ideal para alguém?
O amor está em tudo e em todos e, mais importante: o amor jamais
busca a pessoa ideal, o príncipe ou a princesa. Ao contrário, o amor busca ser
para o outro a pessoa ideal, em suma, o príncipe e a princesa.
Quanto à paixão?
Bem, ela já cumpriu seu objetivo: aproximou sapos e gatas
borralheiras, ou sapos e sapos, gatas e gatas.
A Paixão aproxima, mas apenas o Amor une.
Pensemos nisso. (Fonte: Agenda Espírita Brasil) por Wellington
Balbo
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